como forma de enrijecer
“dessa vez, o tempo não vai fazer as pazes com a mão”galeria refresco (RJ)
as línguas faladas são, geralmente, mas nem sempre, limitadas pelo silêncio, compostas de pequenas peças contínuas que começam e terminam com uma pausa clara. entre o que se fala e o que reproduz mora um terreno baldio. espaço que já foi e pode ser novamente.
um lugar é sempre um lugar e suas circunstâncias. é um trânsito de coisas que aglutinam e separam, como um dominó. suas disposições dependem da elasticidade dos sentidos. sobrevivem no olhar e partem da ação. esses trajetos começam não em uma inauguração do vazio mas na organização das peças que já estavam ali. é engraçado, né?
no fim, só posso tentar falar do que acho que é esse fazer das coisas. nunca com exatidão. há sempre algo se perdendo nessa tentativa que nunca desaparece, continua presente ali de outra forma. no fim, o que foge caber nas mãos acaba aqui, inevitavelmente no chão.
o que escapa da mão?
as vezes a imagino como essa plataforma sólida, construída para suportar e elástica o suficiente para alcançar dois pontos distintos e uni-los. a coisa é tão rígida que toca e apalpa outras coisas imensamente mais resistentes que ela, também é vulnerável ao sopro. deixa escorregar. o que escapa da coisa tem coragem de vida.
falo aqui sem saber muito bem o que cai.
o que cai é resto. só consigo vê-lo enquanto vestígio da ação de cair. não posso falar da forma que o resto tem. é como tentar falar de um acidente ainda em processo. trato como acontecimento que acaba sempre por acontecer. o resto vive no espaço entre a coisa e o chão. compõe-se desse conjunto que cai e faz relacionar entre si construindo uma presença impossível de ver mas que produz efeitos.
a construção vive da condição fértil do tempo para continuar a sedimentar essa relação. assim, produz-se a verdade de que a coisa se deixa escorregar e que o chão suporta, acumula rastros diversos e continua a enrijecer. qualquer discurso que contrarie essa certeza é tropeçado ao solo como se brincasse.
por aqui, tudo se faz como palavras de acabar de acordar, o mundo tenta se estruturar, formar pensamentos e vive nessa. não tem muito bem início ou limite, as pausas não são claras. não posso tentar conformar em algo que se assemelhe a um sentido. uma amiga me atentou que não há um lugar certo pra essa disposição mas, de alguma forma, existe um errado. um errado da circunstância, que acaba transitando para outro espaço que o acolha.
aqui não é lugar de morar, tudo tende sempre ao movimento imediato. ao agir com o que se tem dos pedaços de coisas e palavras. se faz como um improviso, sabe? atua numa espécie de movimento impossível de planejar ou prever, mesmo assim só existe ao se ter a intenção do fazer desse movimento. disso, sempre nasce algo que não parece óbvio, um erro acertado, como uma esquiva fora de hora ou um beijo no olho ao cumprimentar.
é difícil ver uma operação de causa/consequência. é como se o movimento fosse intrínseco a cada um, indo de um espaço a outro sem que eu possa interferir. no fim, sou observador desses acontecimentos que passam por mim, pelas mãos, coisas, chão e resto, sem delimitação muito clara.
um lugar é sempre um lugar e suas circunstâncias. é um trânsito de coisas que aglutinam e separam, como um dominó. suas disposições dependem da elasticidade dos sentidos. sobrevivem no olhar e partem da ação. esses trajetos começam não em uma inauguração do vazio mas na organização das peças que já estavam ali. é engraçado, né?
no fim, só posso tentar falar do que acho que é esse fazer das coisas. nunca com exatidão. há sempre algo se perdendo nessa tentativa que nunca desaparece, continua presente ali de outra forma. no fim, o que foge caber nas mãos acaba aqui, inevitavelmente no chão.
o que escapa da mão?
as vezes a imagino como essa plataforma sólida, construída para suportar e elástica o suficiente para alcançar dois pontos distintos e uni-los. a coisa é tão rígida que toca e apalpa outras coisas imensamente mais resistentes que ela, também é vulnerável ao sopro. deixa escorregar. o que escapa da coisa tem coragem de vida.
falo aqui sem saber muito bem o que cai.
o que cai é resto. só consigo vê-lo enquanto vestígio da ação de cair. não posso falar da forma que o resto tem. é como tentar falar de um acidente ainda em processo. trato como acontecimento que acaba sempre por acontecer. o resto vive no espaço entre a coisa e o chão. compõe-se desse conjunto que cai e faz relacionar entre si construindo uma presença impossível de ver mas que produz efeitos.
a construção vive da condição fértil do tempo para continuar a sedimentar essa relação. assim, produz-se a verdade de que a coisa se deixa escorregar e que o chão suporta, acumula rastros diversos e continua a enrijecer. qualquer discurso que contrarie essa certeza é tropeçado ao solo como se brincasse.
por aqui, tudo se faz como palavras de acabar de acordar, o mundo tenta se estruturar, formar pensamentos e vive nessa. não tem muito bem início ou limite, as pausas não são claras. não posso tentar conformar em algo que se assemelhe a um sentido. uma amiga me atentou que não há um lugar certo pra essa disposição mas, de alguma forma, existe um errado. um errado da circunstância, que acaba transitando para outro espaço que o acolha.
aqui não é lugar de morar, tudo tende sempre ao movimento imediato. ao agir com o que se tem dos pedaços de coisas e palavras. se faz como um improviso, sabe? atua numa espécie de movimento impossível de planejar ou prever, mesmo assim só existe ao se ter a intenção do fazer desse movimento. disso, sempre nasce algo que não parece óbvio, um erro acertado, como uma esquiva fora de hora ou um beijo no olho ao cumprimentar.
é difícil ver uma operação de causa/consequência. é como se o movimento fosse intrínseco a cada um, indo de um espaço a outro sem que eu possa interferir. no fim, sou observador desses acontecimentos que passam por mim, pelas mãos, coisas, chão e resto, sem delimitação muito clara.