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mônica coster

tralha viva


em dessa vez, o tempo não vai fazer as pazes com a mão

”Pisamos em um terreno ordenado. Um solo que se auto-organiza. Aqui dentro, andam-nos. Isso é tudo: por aqui, movimentam-nos e constroem-nos. Temos dois patamares de matéria: o de cima caótico, o de baixo, esquadrinhado. Estamos no terceiro andar, mas presenciamos o quarto. Soa confuso, mas é isso mesmo. É exatamente isso, pisamos sobre o terceiro, mas conseguimos vislumbrar o quarto. Sabemos que no andar de cima há mais dessa mesma matéria que vemos. Lá, é a fonte inesgotável desse material inerte que se exibe selecionado para nós no lance abaixo. Sentimos sobre nossas cabeças o peso da massa desordenada do quarto andar. A tralha viva se aglutina acima dos nossos olhos e testas, pressionando nossos pescoços, mas não a miramos diretamente. Afinal, estamos no terceiro. Sabemos do que é feita - sua composição matérica, sua densidade - tão somente porque desfila uma breve amostra disso tudo ao nosso redor. Acho que é disso que se trata esse lugar: habitá-lo é sentir sempre a presença de um outro lugar. ”