textos


yurie yaginuma  

idílio


em Verbo, Enigma, Dispersão, 2022

“de costas o corpo, a cabeça, lembrei pouco depois das fotografias que o menino no filme yi yi fazia com a câmera que ganhara do seu pai. era um menino de uns 6 ou 7 anos. ele só, ou quase, fotografou pessoas de costas. muitas pessoas de costas, recusando o rosto, recusando o olhar. quem foi que disse eu não lembro, mas alguém disse que aquelas fotos das pessoas de costas eram a outra metade da verdade. nunca esqueci disso. que as costas de alguém, que o seu olhar não consentido, podem ser uma outra verdade.”

“a imagem mesma me diz de um corpo de costas, um olhar que não vejo, um papel vertical, irrompendo no ar, tremulante. as palavras – tentei me concentrar contra a legenda – me chegavam pelos ouvidos. seu ritmo, seu tom, tudo me remetia a performance de uma leitura. parece que o corpo, de rosto virado para o papel, não só tenta impossivelmente inscrever uma escrita com a voz, mas também tenta retirá-la desse papel vazio. me parece mais isso, que lê uma coisa que não está ali, que sabe ler uma escrita invisível.”